sexta-feira, 28 de março de 2008

Mais Israel-Palestina

Este blog começa a receber visitas ilustres e provocar algum debate.

Me meti a escrever sobre um tema espinhoso e difícil, e recebi um justo puxão de orelha do meu chará do Contra-senso nos comentários do último post que fiz sobre este tema.

Corrijo-me aqui de alguns escorregões e discuto algumas colocações do comentarista:

Se pode ser exagero do Idelber falar em chacina, por outro lado, comparar o número de mortos em outros conflitos não alivia a barra de Israel. Nunca pretendi dizer, que Israel seja o culpado da situação de conflito. A confiar nas informações de Paul Johnson em sua História dos Judeus, ambos os lados contribuíram muito para o problema. Os árabes vizinhos nunca aceitaram o estado judeu, e, por conta disso, nunca incorporaram os refugiados palestinos deslocados pela migração de judeus europeus (askenazin) que vieram povoar o novo Estado. Por outro lado, dizer que os árabes pretendem a eliminação do Estado de Israel é parcialmente verdadeiro e parcialmente falacioso. Recusar o "Estado Judeu" significa reivindicar um Estado plural como o que existe no Líbano, com pluralidade de representação religiosa na partilha do poder político.

Quando disse que há sobrerrepresentação judaica na imprensa não pretendi mostrar qualquer ponta de anti-semitismo. Não citaria jamais "os protocolos" como afirma o meu chará, subestimando um pouco minha inteligência. Há sim um percentual maior de judeus na atividade jornalística, como em toda atividade intelectual (cientistas, escritores, filósofos, etc) e no comércio. Não é devido a questões de aptidão étnica, mas de tradição de valorização da educação, do debate contraditório (não é à toa que meu amigo chama seu blog de contra-senso) até mesmo pelas inúmeras restriões a se fixar à terra e possuir bens que os judeus sempre enfrentaram na história.

Assim, sobrerrepresentação na imprensa não significa que todos os jornalistas judeus sejam ativamente pró-Israel. Acho que niguém critica mais os judeus do que os próprios judeus. Por outro lado, não há como negar que os judeus têm maior capacidade intelectual e organizativa para preservar sua memória. Inclusive através de uma fabulosa rede de proteção mútua internacional que vêm permitindo a sobrevivência deste povo há milênios. Só para lembrar, homossexuais, comunistas e eslavos (poloneses - 9 milhões de mortos, e russos - 20 milhões) foram vitimizados pelo nazismo até em maior número do que os judeus. Mas estes conseguiram preservar muito melhor a sua memória, de modo que o mundo nunca mais se esqueça.

Há ainda mais um componente que não pode ser esquecido, sobre o qual deixo para escrever em outros posts: o fundamentalismo evangélico e sua escatologia.

6 comentários:

Anônimo disse...

Caro André,

obrigado pela cordialidade. Peço desculpas pelos exageros. Particularmente quanto a menção aos protocolos é que falar de um "percentual maior e judeus" é um tanto obscuro; maior em relação a que: a árabes, europeus, americanos, negros, cristãos, muçulmanos, budistas, ateus, esquerdistas, conservadores, gays? Teríamos que falar então das proporções de sionistas, anti-sionistas, sionistas de esquerda, de direita, religiosos ou seculares, sefaradim, ashkenazim, mizrahim... E não é muito claro o papel que um "percentual maior de judeus na vida cultural" implica na questão... a menos que isso aponte para uma conspiração judaica (sobretudo quando você cita uma "rede de proteção mútua" espetacular, que na verdade não é tão espetacular assim - vide as rusgas entre ashkenazim e sefaradim, ou ainda o descaso de judeus americanos com a tragédia anunciada antes da segunda guerra...). Não é que eu acuse vc ou subestime suas capacidades, pelo contrário. Só acho que o argumento, se eu bem entendi, não faz sentido no contexto. De qualquer forma, me desculpe os excessos.

Reconheço que pode parecer uma questão de opinião, mas os números de mortos no conflito são importantes e "aliviam a barra", na medida em que Israel é chamado de Estado-terrorista, e perpetrador de uma guerra de extermínio, genocídio, etc.. Os dados demonstram que isso não é verdade - é uma guerra policial. De fato, há um conflito, contudo os julgamentos morais são absurdamente desproporcionais em relação aos envolvidos.

Também pode parecer uma questão de opinião, mas a recusa de um estado plural na Palestina foi iniciativa dos árabes que se recusaram a aceitar presença judaica ostensiva por ali. Veja que o Muftir de Jerusalém e incitou várias revoltas e pogroms contra os judeus durante o mandato britanico - ele era tio de Arafat e liderou uma unidade muçulmana de extermínio nos Balcans... deveria ter sido julgado como criminoso de guerra mas os britanicos se opuseram para evitar mais conflitos com os árabes.

Nunca houve deslocamento de população palestina por ashkenazim até a partilha de 48. Houve compra de terras e a maior parte dos considerados "palestinos" são provenientes de países árabes atraídos pelas melhorias engendradas pelos judeus que se estabeleciam na terra. Os países árabes nunca os absorveram porque (1) criam que 'empurrariam os judeus para o mar' logo que os europeus se retirassem, (2) nunca se preocuparam com os palestinos "per se", tanto que em pronunciamentos recentes de lideranças árabes sobre um ataque nuclear contra Israel, quando questionados sobre as baixas árabes e palestinas, responderam que "a demografia árabe pode suportar isso, e afinal, eles serão mártires".

A recusa árabe a um Estado Judeu não se refere a não existência de um estado plural, mas a simples presença de judeus na Palestina. Veja que os judeus foram sistematicamente hostilizados desde 1920, e não gozaram de proteção inglesa.

O "estado plural" do Líbano foi desarticulado e desbaratado. E o Líbano cristão foi transformado em palco militar para as manobras da Síria e Iran contra Israel desde que os conflitos militares regulares foram um fracasso total. Dois coelhos com uma cajadada só...

Por último, bem... o mundo sempre se esquece. Nos esforçamos para que nós e nosso filhos sempre se lembrem...

Abraço.

Tuco disse...

Fundamentalismo evangélico e sua escatologia... esse post vai ser bom :-)

Anônimo disse...

Bom, se 120 mortos num único fim de semana não são suficientes para caracterizar uma chacina, então, realmente, já não sei o que significa a palavra. Ninguém jamais objetou ao uso do termo quando a polícia matou 111 no Carandiru. Como é Israel matando 120 num único fim de semana, há gente que achará "exagerado" o uso da palavra "chacina". Vai ver que o correto é "ato de auto-defesa".

Grande abraço, meu caro André.

André Egg disse...

meu chará argumenta muito bem, e tem dados que me surpreendem. Dou o braço a torcer com alguns.

Mas insisto em dizer que é temerário generalizar os muçulmanos como bandidos. A mais das vezes as políticas absurdas e violentas atendem sempre os interesses das potências ocidentais.

Quando falo em sobrerrepresentação de judeus me refiro especificamente à questão Israel-Palestina onde os árabes têm muito pouca ou nenhuma voz, especialmente na década atual (política anti-terror).

Não custa lembrar que o terrorismo moderno foi inventado pelos sionistas e usado para afastar a presença britânica na região em 1910.

Por fim, acho que o Idelber tem razão de sobra e o termo chacina está correto. Questões em relação ao Sudão ou aos curdos, mencionadas pelo André nos comentários do outro post seriam melhor classificadas como genocídio. Todas porém são igualmente horríveis e uma maldade não pode justificar a outra. Em suma, o que argumentam os sensatos é: que tal parar com a violência e negociar uma saída?

Não há dúvida que saídas negociadas têm sido sabotadas sempre por radicais de ambos os lados...

André Tavares disse...

Cara, obrigado pela cordialidade. Realmente, fiquei temeroso em discutir o assunto sobretudo por não conhecê-lo pessoalmente (as personalidades virtais deixam tudo mais virulento). Mas apesar de discordarmos em alguns pontos tive um debatedor de muita classe. Vou listar seu blog no meu blogroll, tanto por reconhecimento quanto por ter gostado da página. Quem sabe a gente não se vê um dia desses? Abraço.

André Tavares disse...

Caro Idelber,

tudo bem? Sei que aqui não é o local adequado para mantermos diálogo/debate (é a página de um terceiro), mas se me for permitido, reconheço que a incursão israelense foi particularmente violenta. Contudo, se chacina é o que foi feito em Carandiru, quando o Estado usou de força excessiva contra detentos desarmados, o que Israel fez é, com certeza, outra coisa. Israel invadiu um território usado por terroristas para lançar foguetes contra seu território (contra alvos intencionalmente civis: escolas infantis, casas, sinagogas...). Israel mata civis em ataques contra posições para-militares, e, por sinal, o próprio Hamas admite que metade dos mortos no ataque eram civis - ou seja, a outra metade era de milicianos do Hamas. E como o Hamas sempre exagera (o conflito é de desinformação também)... não me assustaria se a proporção de civis for menor. Se o conceito tem designa o primeiro uso, não se aplica ao segundo caso - são categorias qualitativamente muito diferentes.

Não sou cínico, nem atento ao conflito sem me condoer dos palestinos. O que acho complicado é esse tipo de raciocínio.
Sim, acho que é auto-defesa. Não, não acho que é a solução, e discordo da direita israelense. Abraço.

André: o terrorismo judeu na Palestina Britânica não era exatamente para "afastar os britânicos", mas ação já que nada faziam a respeito aos ataques contra assentamentos judeus - é só ler o White Paper. As ações de afastamento se iniciam quando os ingleses se recusam a deixar que judeus que fugiam dos nazismo desembarcassem na Palestina - a maioria morreu nas câmaras de gás, ou nos campos de concentração ingleses em Chipre. Os terroristas judeus nunca contaram com armamento e suprimento de países estrangeiros - e o mais famoso ataque, contra o King David, o hotel e os oficiais receberam mais de um aviso do Irgun de que havia uma bomba no edifício para que houvesse tempo para evacuação (inclusive 17 judeus morreram no ataque). Abraço.

Abraço.