terça-feira, 25 de março de 2008

Missões e cultura local – os jesuítas no Brasil

Um dos maiores problemas de enviar um mensageiro religioso para pregar a outras culturas é que é bem difícil saber onde termina a pregação religiosa e começa o massacre cultural.

Além do massacre cultural, a evangelização/colonização de povos “pagãos” pelos cristãos europeus perpetrou também massacres físicos, com a guerra, a escravização, a morte por doenças contagiosas e, até mesmo, a simples chacina dos que se recusaram aderir à nova fé.

Mas, entre as muitas práticas condenáveis dos missionários, alguns fatores positivos chamam a atenção. Entre os indígenas da América, os missionários jesuítas muitas vezes se posicionaram como atenuadores dos horrores da colonização, preocupando-se em olhar para a cultura do outro e não apenas destruí-la.

Eles foram os pioneiros no estudo das línguas indígenas, desenvolvendo as chamadas “línguas gerais” nas colônias portuguesas. Para estas línguas escreveram gramáticas, catecismos e também músicas.

Pelo que indicam os documentos mais antigos, no início de sua atuação, os jesuítas utilizavam-se, além da língua dos índios, também de suas melodias. Uma das críticas do Bispo Sardinha era que os meninos órfãos cantavam “cantares de Nossa Senhora ao tom gentílico” (Car.PeSar.1, 1552, p. 358); em resposta, Nóbrega afirmou que uma forma de atrair os índios era “cantar cantigas de Nosso Senhor em sua língua e pelo seu tom” (Car.MaNob.6, [1552], p. 407). Não foram encontradas referências posteriores ao uso de melodias indígenas ou de cantigas “pelo seu tom”. Exatamente como ocorreu com o uso dos instrumentos dos índios, essa prática provavelmente foi logo abandonada. (Holler, 2006, p. 157)

Car.PeSar.1, 1552.
Carta do Bispo D. Pedro Fernandes Sardinha ao Padre Simão Rodrigues. [Bahia, julho de 1552].

Car.MaNob.6, 1552.
Carta do Padre Manoel da Nóbrega ao Padre Simão Rodrigues. [Bahia, fins de agosto de 1552].

3 comentários:

Tuco disse...

Interessante.

Li em algum lugar que, até 1800, com a vinda da família real pra cá, a língua mais usada nas ruas e comércio, mesmo dentro das maiores cidades, era o Tupi.

Uma pena isso ter evaporado tão rápido. Eu queria saber arranhar um tupizinho...

Leonor disse...

Oi André, tem um artigo excelente de um professor meu sobre os dilemas enfrentados pelos Jesuítas na cristianização dos tupinambá que vale muito a pena você ler. O nome é "o mármore e a murta: sobre a inconstância da alma selvagem". Deve ter na internet. .. abração!

André Egg disse...

É isso aí Tuco. Os jesuítas criaram línguas gerais indígenas, escreveram gramáticas e catecismos para elas. Com exceção de Salvador e Recife/Olinda, não se falou português na colônia até o período do ouro, no século XVIII.

No Paraguai o tupi-guarani é língua oficial, junto como espanhol. No Mato-Grosso do Sul é falado entre os moradores do interior. Até os ex-governador do estado, apelidado Zeca do PT, fez discurso de posse em Tupi Guarani.

Obrigado pela dica do texto Leonor. É do Eduardo Viveiros de Castro? Em versão digital não achei. Vou procurar em papel mesmo...