domingo, 23 de março de 2008

O conflito Israel-Palestina

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(atualização: se você chegou aqui pelo google, este é meu post mais antigo sobre o assunto. O mais atual é este: Propostas de solução para o conflito Israel-Palestina: carta aberta de Uri Avnery a Barak Obama)


O conflito Israel-Palestina é uma das grandes questões do mundo contemporâneo. É polêmica pura. Envolve paixões. Tem origens históricas profundas. Por tudo isso, não é uma questão simples.

Neste início de 2008 a violência teve nova escalada na região, com vários ataques militares israelenses. A última vez que vi publicada uma contagem de mortos palestinos o número já estava em mais de duzentos. Civis. Velhos, mulheres e crianças.

Em decorrência disso, dois grandes blogueiros se engalfinharam numa disputa particular em torno da questão Israel-Palestina. O Pedro Dória escrevendo do ponto de vista judeu e o Idelber Avelar escrevendo do ponto de vista Palestino.

Pedro Dória é um jornalista muito experiente, especialmente dedicado a questões internacionais, tema a respeito do qual seu blog é sempre uma das grandes fontes de informação na internet. Idelber Avelar é professor doutor de literatura latino-americana em universidade nos EUA. É no mínimo um intelectual de altíssimo nível, certamente não apenas conhecedor de literatura, mas também de música, de política e de história.

O Pedro Doria escreveu um post no qual mostra que os dois lados estão errados na questão – uma posição equilibrada que é, a meu ver, a chave para a solução do conflito. Violência se paga com violência – assim grupos de libertação da Palestina e o exército israelense estão num círculo vicioso do qual não existe saída.

O Idelber Avelar se ofendeu e escreveu um post desancando o amigo. Culpa dos dois lados? Nada disso. Israel é que tem o poder e oprime os palestinos (é verdade mesmo), que só reagem. O post do Idelber tem fotos, e faz uma coisa que a imprensa não costuma fazer: mostra o sofrimento dos palestinos, sua humanidade.

Em tempos pós atentado às torres gêmeas de Nova Iorque as únicas imagens que vemos de muçulmanos é a de monstros-assassinos-terroristas-saguinários. Mentira. Propagada por uma imprensa norte-americana muito poderosa e intimamente ligada aos interesses da geo-política do país e de seus governos. Lembremo-nos que existe também um número desproporcionalmente alto de judeus na atividade jornalística em todo o Ocidente, bem como uma incrível parcela de capital de judeus no controle dos grandes grupos de comunicação. O próprio Pedro Dória afirma-se simpático à causa judaica também por origem de família. Por causa disso, acho que o Idelber faz um papel importante no debate: defende o lado mais fraco, sempre sub-representado em todos os debates sobre a questão.

Principalmente depois que os EUA venceram a Guerra Fria, e deixou de existir um forte movimento comunista internacional que sempre se postava a favor dos árabes, se não por outro motivo, pelo menos para ser contra os interesses norte-americanos.

Acontece que o Idelber é amigo do Pedro Doria, e esqueceu de avisar que ia colocar um post tão forte. Isso ofendeu o jornalista, que escreveu um post jogando a toalha. Mais ou menos o que ele diz é que não vale a pena se desgastar num debate tão violento e que sempre deixa profundas marcas. Afinal, é impossível discutir a questão sem receber os respingos do esgoto anti-semita que ainda anda tão forte por este mundo afora.

O Idelber se comoveu com a dor do amigo e tentou contemporizar num outro post. Inclusive foi alertado por leitores que tinha entendido errado algumas coisas que o Doria escreveu. É o típico caso em que o intelecto se turva pelas emoções e as palavras viram símbolos de uma luta intestina.

Passado algum tempo, o Idelber volta à questão. Para sorte dos leitores interessados, os melindres não paralisaram o debate, que é muito necessário. Ainda mais quando envolve dois conhecedores como os nossos blogueiros. Agora ele propôs um livro como leitura para o debate, convidando os leitores do blog a entrarem na dança. O Doria topou. Mas propôs mais livros, onde a questão não fosse vista apenas pelo lado pró Palestina.

Rafael Galvão complementou a questão, ajudando a entender por que não é absurdo comparar a atual política israelense com a dos nazistas.

Aqui do blog, vou acompanhar a questão. Não poderei ler os livros propostos por falta de tempo agora. Mas vou escrever mais sobre o tema, especialmente tentando trazer subsídios históricos que ajudem a elucidar o conflito mais intrincado do século XX, já se desdobrando pelo século XXI adentro...

3 comentários:

Leonor disse...

Oi André, você assistiu aquele filme "paradise Now", sobre dois jovens homens-bomba palestinos? Ganhou o Globo de Ouro e o Oscar, além de outros prêmios. Vale muito a pena. Abraço.

Anônimo disse...

Caro André,

tudo bem? Sou amigo da Leonor, sua prima (acho). Li seu texto e os artigos que você cita, e gostaria de escrever uma ou duas linhas...

Primeiro: Israel tem reagido a 60 anos. O ataque contra o estado judeu pelo árabes e a recusa da resolução da ONU começou em 48, por iniciativa árabe - que nunca desistiram do projeto de aniquilação de Israel muito menos propôs paz, a não ser o humilhado e comprado Egito (que recebe quase tantos dólares americanos quanto Israel)

Segundo: Avelar fala de "genocídio", "chacina", etc.. O conflito árabe-israelense, contando com as guerras (56,67,73,82, as intifadas e 2007) somam 60.000 árabes e palestinos mortos. É o conflito com o menor número de mortos em toda a história, tendo em vista a duração. Só a guerra Iran-Iraque matou 1.500.000 de pessoas (um milhão e quinhentas mil)... fora o que tem sido feito com os curdos, etc.

Terceiro: cristãos palestinos estão sendo sistematicamente perseguidos em Gaza, e há um movimento pró-Israel entre eles, curioso, não?

Quarto: árabes israelenses tem o melhor padrão de vida do oriente médio em termos populacionais (ao contrário da concentração de renda nos países árabes/muçulmanos), e são cidadãos plenos (voto, partidos, deputados e representantes políticos), ao contrário de judeus, cristãos e não-muçulmanos em países muçulmanos/árabes.

Quinto: camarada, "sobrerrepresentação judaica na imprensa"? Ainda que isso fosse verdade, veja o caso do New York Times, um "jornal judeu", que se coloca como crítico sistemático de Israel (foi quem denuncio Shabra e Chatila, inclusive, numa reportagem de um jornalista judeu...). Só faltou vc citar os Protocolos...

Sexto: o Islam e o mundo árabe são as "fronteiras de sangue". Tome os dados de conflitos em que árabes/mulçumanos estão envolvidos, seja com outros árabes ou outros muçulmanos e vejamos o que é chacina.

Sétimo: Vá no Google digite "genocídio Israel" e "genocídio Sudão" e veja quantos hints aparecem para cada um e veja como a imprensa é "judaica"... e tenha em mente que no Sudão muçulmanos árabes já mataram mais de um milhão de muçulmanos negros, fora os cristãos e animistas...

Dizer que Israel é o problema, ou que é em Israel que ocorre uma carnificina é irreal - Dória erra na apologia e Avelar é criminoso com as palavras e com as fotos... mostrasse também as crianças de Sderot, ou o massacre (de judeus) em Belém e Hebron em 46/48, os as bombas sobre rabinos piedosos em Safed...

Bom, desculpe o excesso. Abraço,

André.

Anônimo disse...

André...Saia da sua casa agora e destine a outra pessoa. Vc jamais aceitaria. Vc é judeu e não está fazendo uma análise levando em conta a realidade e sim o seus próprios interesses. Sabe pq?? P antes de criarem arbritariamente o estado de Israel numa região que já havia outro país, vc saíram da vida de nomades. Vcs eram ciganos e agora me vem com essa de que 'querem aniquilar o estado de Israel'??? Ora estamos falando do que antes de 47 sequer existia. E foi imposto sobre um lugar onde já havia vida, origem, família. HISTÓRIA. CORAJOSOS OS ÁRABES QUE CONSEGUEM ENFRENTAR A POTÊNCIA ECONÔMICA E POLÍTICA DOS EUA E BÉLICA DE ISRAEL. Sem ceder a essa decisão prepotente, arbitrária, desumana, injusta. Pode até ser que por aqui os israelenses vençam, mas com Deus eles vão pagar caro! Se Deus quiser.