Fiquei sabendo da notícia pelo Idelber Avelar, que apoia fortemente a medida. Agora é lei - o Ensino Médio incluirá as disciplinas de Sociologia e Filosofia.
Este blog também é a favor.
O próprio Idelber dá lá os links de quem é contra a medida. Inclusive um certo colunista da Veja, que afinal é uma revista acima de qualquer suspeita de doutrinação ideológica. Parece que vai se repetir uma ladainha mentirosa já iniciada pelo chefe de jornalismo da Globo, conforme relata o mesmo Idelber, a respeito do caso de um livro didático de história.
O mesmo discurso falso está no texto Doutrinação barata, escrito por Nelson Ascher para a página E6 do caderno Ilustrada da Folha de hoje. Quando comecei a ler jornais, a Folha não seguia o mesmo caminho de Veja e Globo, mantinha-se um nível jornalístico acima. Faz tempo que já não é mais assim. Tá certo que o texto é uma opinião assinada - e não a opinião do jornal. O mesmo se poderia dizer do Reinaldo Azevedo, ou talvez das falas do Arnaldo Jabor. Alguém acredita que estes caras tem opinião própria? Eles são muito bem pagos para escrever editoriais assinados, livrando a cara dos editores.
Ao que me parece, o Nelson Ascher é médico. Entende muito de educação, filosofia ou sociologia, portanto. Usa uma história pessoal, mostrando como aprendeu a gostar de Dostoievski sem ter aulas de literatura estrangeira no Ensino Médio. E afirma que não se lembra mais do que memorizou dos conteúdos escolares oficiais. Conta que estudou "num dos melhores colégios de São Paulo", que "sabia maximizar nossa capacidade de memorizar", pois ele os colegas passaram em concorridos vestibulares.
Ele provavelmente não sabe, mas faz tempo que a escola não serve mais para "maximizar capcidade de memorização". Para isso temos computadores. Escola serve para preparar para a vida, para as relações humanas, para o aprendizado contínuo, para a construção do conhecimento. Se Sociologia e Filosofia não servirem para isso, não sei o que servirá. Ascher queixa-se de que esqueceu o aprendido em matérias "rigorosas e/ou factuais: trigonometria e geometria analítica, ótica e química orgânica". Estas matérias poderiam ser dispensadas do Ensino Médio e ficar para vestibulares vocacionais das áreas técnicas. Já um engenheiro ou um médico que sabe bem as tais "matérias factuais" pode ser um péssimo profissional (temos deles aos montes por aí) por não saber construir relações humanas, respeitar as diferenças, trabalhar de forma cooperada por um mundo melhor.
Afinal, a melhor doutrinação ideológica que se pode fazer com os estudantes é justamente a que já temos de sobra: sonegar-lhes formação cultural, para que continuem sendo escravos. A certos interesses não vai bem uma formação humanística mais ampla - afinal, pessoas que pensam dão mais trabalho. Não acreditam em tudo que lêem nos jornais ou vêem na televisão...
Um comentário:
Espetáculo! Realmente uma boa notícia.
Postar um comentário