domingo, 26 de julho de 2009

Uma resposta (bem-educada) ao Demétrio Magnoli

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Interrompo o silêncio sepulcral que acomete este blog para reproduzir aqui um trecho da resposta do prof. Kabenguele Munanga a Demétrio Magnoli.

Tive aulas de Antropologia Física com um dos melhores biólogos e geneticistas franceses, Jean Hiernaux. Uma das primeiras coisas que ele me ensinou era que a raça não existe biologicamente. Através de suas aulas, li François Jacob, Nobel de Fisiologia (1965) e um dos primeiros franceses a decretar que a raça pura não existe biologicamente; e J.Ruffie, Albert Jacquard e tantos outros geneticistas antirracistas dessa época. Portanto, sei muito bem, e bem antes de Demétrio que o racismo não pode ter mais sustentação científica com base na noção das raças superiores e inferiores, que não existem biologicamente. Sei muito bem que o conteúdo da raça enquanto construção é social e político. Ou seja, a realidade da raça é social e política porque tivemos na história da humanidade povos e milhões de seres humanos que foram mortos e dominados com justificativa nas pretensas diferenças biológicas. Temos em nosso cotidiano, pessoas discriminadas em diversos setores da vida nacional porque apresentam cor da pele diferente. Nosso sistema educativo é eurocêntrico e nossos livros didáticos são repletos de preconceitos por causa das diferenças. Não sou um novato que ingressou ontem na universidade brasileira. No Brasil, fui introduzido ao pensamento racial nacional por grandes mestres, como João Baptista Borges Pereira, que foi meu orientador no doutoramento, Florestan Fernandes, Octavio Ianni, Oracy Nogueira, entre outros. Não sei onde estava Demétrio nessa época e em que ano ele descobriu que a raça não existe. Acho um exagero querer me dar lição de moral sobre coisas que eu conheço muito antes dele.

Quem fez o serviço público de divulgar a resposta, mais uma vez, foi o Idelber Avelar - recomendo fortemente a leitura do texto completo.


Leia também, aqui no blog:

Sobre as cotas raciais

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3 comentários:

Jorge Alberto disse...

Salve!

André, muito obrigado pela visita ao Recanto das Palavras. O seu blog está lá em meus "Blogs Bacanas", por que seu blog é muito bom mesmo.

Em breve Coritiba x Botafogo. :)

Grande abraço.

Terezinha Bolico disse...

Lí o artigo completo e agora estou lendo os comentários (lendo a matéria completa),como são muitos, vou ler aos poucos.
Muito interessante, porém não acrescenta nada ao que foi dito...particularmente eu acho as cotas injustas, pois pode tirar a vaga de um estudante branco que realmente a merece e dá-la a alguém menos talentoso.A cor da pele não deveria ser quesito que faça diferenças, num pais como o Brasil.
Excelente dica de leitura, valeu!
abração

André Egg disse...

Tereza,

obrigado pelo comentário.

Mas discordo do teu argumento. A cor da pele é um quesito que faz muita diferença num país como o Brasil. E as cotas são uma forma de minimizar isso.

Os negros estão em todos os tipos de desvantagem na sociedade brasileira. E pode ter certeza que os alunos que entram pelas cotas são muito talentosos.

Já há pesquisas sobre o desempenho destes alunos na universidade e eles não ficam aquém dos brancos que supostamente teriam maior mérito.