Tempos atrás folheei o livro de Milton Schwantes – Sofrimento e esperança no exílio e fiquei intrigado. Prometi para mim mesmo que leria o livro e faria uma resenha dele no blog. A leitura continua nos meus planos. A resenha não, porque já está feita no Cultura blá, blá, blá .
Só faltou o Eduardo esclarecer um pouquinho mais sobre os porquês de algumas coisas. O livro foi escrito na década de 1980 e merecidamente reeditado agora. Schwantes é luterano, formado em teologia no Rio Grande do Sul e pós-graduado na Alemanha. Assumiu o pastorado de uma paróquia em Santo André no ABC paulista. Diante de uma comunidade operária da periferia de uma das maiores metrópoles industriais do mundo, deve ter ficado se perguntando o que faria com todo seu conhecimento teológico e como poderia aplicá-lo à realidade local de pobreza, exploração e miséria.
Encontrou o nexo entre o exílio babilônico dos judeus e os pobres latino-americanos, eternamente exilados em sua própria terra.
Schwantes fez como outro importante teólogo. No início do século XX, Karl Barth, então discípulo de Harnak e teólogo liberal de carteirinha assumiu o pastorado de uma comunidade operária. Descobriu que o otimismo liberal só servia aos gentlemans da belle époque e não aos pobres bastardos do mundo industrial. Reformulou sua teologia, sendo um dos primeiros a propor respostas à grave crise que o mundo enfrentava, onde as certezas do século XIX entraram em colapso. Em 1919 publicou seu comentário Aos Romanos, sobre a carta de Paulo. Com certeza o livro de teologia mais influente do século.
Assim como o livro de Barth, o de Schwantes certamente desagrada evangélicos fundamentalistas (uso aqui um pleonasmo), pois relativiza a noção de autoria do Pentateuco e problematiza a falsa noção de inspiração divina literal (uma tese que defende que a Bíblia seja um livro coerente e unitário, psicografado por Deus para seus escolhidos).
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